Acredito que quando se tem sonhos e metas em nossa vida precisamos fazer com que isso tudo vire realidade. E foi com esta ideia e ideal que vim para o Japão. Conseguir minha casa própria é o principal objetivo pelo qual estou aqui ralando.
Já estou por aqui há quase três anos e sempre tive vontade de escrever sobre minha experiencia em relação ao trabalho, pois bem, hoje estou de folga e tirei o dia para realizar este desejo.
Quero dizer que quando estamos em nosso país prestes a conhecer um mundo novo, imaginamos muita coisa e dentre estas coisas, imaginei um tipo de serviço totalmente diferente do que encontrei.
Afinal, um país conhecido mundialmente pela sua tecnologia, a labuta só poderia ser bem simples e fácil. Me enganei!!! Os serviços por aqui são totalmente contrário ao que encontramos em nosso país, e tenho certeza que muita gente recusaria e encontraria mil e um obstáculos para não realizá-lo.
Calma ai gente, não é nada tão pavoroso assim rsrsrs. Vou reduzir a uma só palavra "peão", sim, o serviço que eu faço é serviço de peão como conhecemos no Brasil.
Trabalhei durante 2 anos em uma fábrica de fazer encosto de cabeça para bancos de carros, trabalho de costura, mas eu não costurava por não ter aptidão na área né rsrsrs, mas era kensa. O serviço de kensa por aqui é aquele no qual verificamos se não existe nenhum tipo de furio (defeito) na peça.
Você deve estar pensando, mas só isso??? Não meu caro leitor, não é só isso. O puxado mesmo é a carga horária dos trabalhos por aqui e o modo em que trabalhamos.
A maioria dos serviços são com cargas horárias de 8 horas, que chamamos de teide, durante 6 dias da semana. Os movimentos que fazemos são repetitivos e são realizados em pé. Temos direito a 5 ou 10 minutos de kiukei (intervalo) a cada 2 horas de trampo e o horário de almoço é de 50 a 60 minutos, dependendo da fábrica.
Dependendo dos lugares, as duas horas são tão corridas que não dá tempo de tomar uma água ou ir ao banheiro.
Quando falamos em remuneração, não podemos pensar em igualdade de gênero, sim, por aqui os homens sempre recebem mais que as mulheres.
Aqui recebemos por hora trabalhada, no meu caso minha hora custa 900 ienes, o equivalente a 28,80 (usando o dólar atual) e a hora do meu esposo é 1.200, equivalente a 38,40.
Passando de 8 horas de serviço temos direito a 25% a mais na hora, pois ai já estamos entrando nas horas extras e são estas horinhas a mais que fazem toda a diferença no fim do mês. Algumas fábricas pagam o sexto dia (sábado) inteiro como hora extra.
As contratações por aqui são realizada através das empreiteiras, que são uma espécie de banco de funcionários. Aqui existe os chamados tantoshas, no qual entramos em contato para saber sobre possíveis serviços, se tem, eles te levam até a fábrica e te mostram o serviço.
A diferença que vi daqui para o Brasil foi que você pode escolher se quer ou não ficar naquele serviço que te mostraram. Caso você olhe e não goste, os tantoshas te levam em outros lugares. Caso você goste, já começa a trabalhar. Quem decide somos nós, mas o serviço é sempre na base do esforço repetitivo e no mesmo esquema de intervalo.
Quando cheguei por aqui tive a sorte de encontrar um serviço que não precisava falar nihongo, já que o meu nível de fala e escrita em japonês é zero rsrsrs. Aprendi muitas coisinhas do idioma na fábrica.
Quando falei das horas que ganhamos você certamente pensou que como a mulher ganha pouco o trabalho não deve ser tão puxado assim né, mas você se enganou. Independente de ganhos, as mulheres realizam o mesmo trabalho que os homens.
Se tiver com intensão de viver no Japão esqueça a igualidade de gênero tão almejada por nós brasileiros. Aqui não podemos nem reclamar, é assim e ponto.
Como já mencionei em outros posts aqui no blog, este ano mudei de serviço, o motivo foi um só e se chama HORA EXTRA. Queria trabalhar um pouco mais para receber um pouco mais, afinal, alguns ienes a mais no fim do mês faz muita diferença, pelo menos para mim.
Nesta troca de serviço eu acabei saindo de um serviço limpo e leve, sim, por aqui definimos serviço limpo e sujo e leve e pesado, bom como estava dizendo, acabei optando por ficar em um serviço sujo e pesado, mas em uma fábrica perto de minha casa e com as folgas totalmente contrárias ao do meu esposo.
No inicio foi muito ruim, o corpo doía todo, as costas então nem me fale, agora, depois de 4 meses, o corpo já se acostuma com a rotina e vai que vai.
Sempre soube que nada na vida vem fácil, portanto é preciso trabalhar e muito para que coisas boas aconteçam.
É cansativo? é. Tem dias que reclamo? Sim e muitos, mas agradeço a Deus todas as manhãs por ter me dado este trampo e a oportunidade de passar por todas estas experiências.
Durante todo este tempo de Japão não me arrependi em nenhum momento de ter vindo e estar vivenciando esta realidade totalmente contrária ao que eu pensei. No mais, as novidades são sempre a mesma, muito trabalho, trabalho, trabalho... Alguns dias de passeio, reuniões em casa de vizinhos, e a vida vai passando e eu e Mário sempre atentos para o nosso grande objetivo.
A vida corre aqui, o tempo passa rápido e os nossos sonhos, desejos e vontades precisam ser concretizados no decorrer disto tudo.
Vou ficando por aqui e espero que este texto tenha feito você entender um pouco de como é o trabalho na terra do sol nascente.
Beijos e obrigada por sua visita.
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